segunda-feira, 18 de abril de 2011

III

Depois de mais meses, eu só estava embriagado. Para adiar a ressaca gigante que ia chegar com os dias, continuava bebendo, e fumando. Nada de Carmen, mas soube por minha vizinha velha, fofoqueira, imbecil, que Carmen estava bem e feliz. Que estava de fato fazendo tudo o que eu disse, na mãe, feliz e tudo. E eu aqui, uma merda de homem pinguço, acabado, barba por fazer. O que uma mulher faz na sua vida, te deixa assim, Carmen, volte...
Cada dia que passava eu me sentia mais depressivo, mas todos falam: “faça uma coisa que te deixa feliz”, mas estar mau era minha punição, não que eu gostasse, mas estava acomodado a ficar mau e a beber e tudo. Por incrível que pareça, ainda bebia. Mas não saia de casa, aquela velha imbecil me trazia umas bebidas, aquela velha nojenta.
Nojenta porque era o aniversário da ida de Carmen, ela sabia, ela sabia de tudo, do batom, da data. Chegou em casa, disse que estava cansada, pediu pra usar o banheiro, concedi, claro. Depois que Carmen se foi, só soube fazer duas coisas: lamentar e beber. Talvez fosse um covarde por isso, mas era o que me cabia a fazer. Mas enfim, voltando a Velha Nojenta. Ela demorava, demais. “O que esta havendo aí?” , perguntava impaciente, na terceira, quarta lata de cerveja; “Calma, meu bem, você vai gostar.”. “Meu bem”, eu pensei, “que diabos de ‘meu bem’ ela chega pra cima de mim?” mas tudo bem, mulheres com seus apelidos, não é? A sala estava uma bagunça, minha casa era um banheiro publico, apenas as latas e uma vida sendo dispersa e eu não ligava. De repente eu vi Carmen.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

II

Mas de todos os sentimentos que juro que senti por Carmen, aquele batom vermelho chegou a ser um sentimento. O maior, o melhor, mais intenso, sentimento. Quando Carmen o usava, era sinal de que coisa vinha por aí, coisa boa, coisa ruim, algo forte vinha. Algo forte como beijos, como brigas, como desejos, como pernas, como gritos, saídas de casa – voltando só depois de três dias - , mas Carmen era boa mulher. Boa mulher que se foi porque fumei, bebi, droguei, cortei e fiz coisas que não devia. Achei que vinha coisa melhor que Carmen e seu batom vermelho, e de fato veio, mas eu não quis. Consumei, mas não repeti.
As mãos não eram de minha Carmen, nem a boca. As pernas eram mais finas, e aquela voz não era calorosa e por vezes, escandalosa que Carmen tinha. Então eu não quis repetir, Carmen podia ter todos os defeitos do mundo, mas sempre esteve lá por mim, menos quando confessei ter cheirado, é, também cheirei. Pois já estava desempregado fazia tempos, gastei o dinheiro dela, e com horror ela disse “Não quero vagabundo morando comigo” então eu disse “Essa casa ainda é minha!” e ela retrucou “Pois isso não é problema”, fumou seu último cigarro, fez a mala correndo, deu um beijo no porta retrato e foi embora.
Faz três meses, me sinto perdido. A casa ta vazia, tudo fica escuro a maior parte do tempo, não tem louça pra lavar porque eu não como, e quando como são sobras, são pães, e Carmen, o que anda comendo?
Não me preocupo sobre o futuro, bonita e inteligente que era, Carmen se ajeitaria fácil na vida, deve estar morando com a mãe, e xingando, dizendo que esses último 15 anos foram os piores de sua vida, mesmo sendo mentira, mesmo sorrindo muitas vezes.
CARMEN COMO SINTO SUA FALTA, MULHER! EU CHORO DE SAUDADE DE VOCÊ.
E se o tempo voltasse, meu amor, eu estou desesperado!

quinta-feira, 14 de abril de 2011

I
Que posso esperar? Se aquela última tragada não fui eu quem deu, se aquele último beijo já não era mais meu, você foi embora...
Na tarde escura te vi numa van, apressada, querendo esconder a raiva que sentia por tudo que te fiz passar, mas acredito que ninguém pensou, que ninguém teve a decência de pensar que tudo aquilo iria refletir num futuro bom... Meu amor, meu amor, que falta você vai me fazer? Tudo o que eu fiz, era pra morrer mais cedo...
Mas de certo não aceitaria. Nossa história não era uma coisa corriqueira, essas coisas de amor, meu amor, me assustam. Não sei bem, mas dizem que a convivência enfraquece, cai tudo na rotina, eu nego. Quanto mais passei meus dias ao seu lado, mais me apaixonei por quem eras, e umas vezes a detestava, mas Carmen, você sabe que nessa vida corrida que tinha, o ódio é uma forma de estresse, nunca odiei de verdade, era nervoso.
Lembre-se dos momentos lindos que passamos juntos, lembre-se de cada cômodo de casa, lembre-se das paredes que nos apoiamos, lembre-se do dia da mudança. Carmen, nada faz sentido sem você em casa, qual é seu paradeiro?

domingo, 10 de abril de 2011

a casa que não era lar

Aquele mesmo clima permanecia em casa. O clima tenso, tentando ser feliz. Não tente ser feliz. Não tente ser feroz.
Uma das coisas que eu mais esperava era que minha casa voltasse a ser o lar que já foi. Onde a família se reunia todo dia pra jantar e, conversar e, ver jornal, até brigar quando necessário. Existia um calor que acima de qualquer coisa, aquecia nos dias frios, uma preocupação sobre como tinha sido seu dia. As broncas sobre suas burrices.
Agora onde habito é apenas um terreno médio com quatro paredes e dois andares onde dois seres vivos estão se privando de um contato maior. Onde há uma pequena batalha de compensações. “Se eu te der um livro você vai ficar feliz?”  - Vou, vou sim.
Mas não espero mais nada. Acho que essa casa não volta a ser lar, só se outro grupo de pessoas a habite e faça uma família, com o jantar, o jornal e as brigas, as broncas. As filhas, os filhos, as mães e os pais.
Não quero mais a ironia e o sarcasmo de cada refeição, não quero mais ter que fingir na minha própria casa, não quero desejar estar só, a cada segundo. Não quero estar mais feliz com idas do que com vindas, mas eu me acostumei, pois é, agora em diante é assim...
Eu não sei se é pedir muito, pedir uma coca cola, pedir macarrão, mamãe, irmão, papai e eu, todo mundo junto de novo, cada um comentando sobre si. Porque éramos diferentes, muito diferentes e a gente se entendia nessas diferenças, ainda que muitos erros fossem cometidos, algum acerto nós fazíamos em tentar ser uma família meio feliz, meio saudável. Mas acho que é pedir muito sim, porque tanto peço e isso nunca ganho, parei de pedir.
Às longas partidas devemos as unhas que não crescem mais, e a carência insaciável por um pouco de amor.

“Meu almoço está fadado ao desgosto de ser ruim, e eu fadada ao desgosto de ser carente.”

terça-feira, 5 de abril de 2011

Ode ingrato ao amor e à Lana.

Tão viva quanto Heath , pior do que melhor, não deveria esperar.
Tão perdida quanto a colega vadia, tão perdida.
Tão amada quanto mais podia, tão ingrata.
Ingraditão.

Sabia que não devia, fazia.
Sabia que a discórdia viria, sabia
Que tão pouco esperta seria (se esperasse algo bom de quem não vai voltar.)

Querendo acreditar, chorava.
Querendo mais cantar, gritava.
Querendo mais dormir, morria.
Querendo mais odiar, amava.

Tão esperta quanto podia.
Tão morta e tão viva
Com pulmões pedindo do ar a vinda
E a cabeça pedindo a morte, nicotina.

Dormia para sempre, mas respirava.
Pedia uma salvação do Divino
Ululante em sonhos, em vida.
Vida tão mal vivida, tão inútil, tão... vazia

Não sabia mais rimar, não queria escrever, não queria ler, não queria levantar, não tinha vontade, não tinha força, se sentia culpada por estar com a pior cara de ressaca e embriagada com remédios, com antidepressivos que não a deixavam beber o quanto queria, pedia. Aos esforços de um amor, de fazê-la feliz, incontente, o amor não entendia que hoje, era o pior dia de sua vida. Amor, entenda.
Talvez para aos piores dias, devemos os melhores sonos. Assim como Kurt, dormia mais por tristeza do que sono, nunca tinha dormido tanto nessa semana, três horas e pouco, seguidas, sem acordar, ao lado de Lana. Assim podia tudo terminar, dormindo com Lana.