domingo, 28 de agosto de 2011

Viciante.


Corre, corre, corre, corre, chora, grita, ama, desespera, morde, assopra, beija, lambe, sente, diz, mente, corre, corre, corre, corre sem lugar pra chegar numa escola estilinho americano, numa cidade com gostinho de proibido, porque tinha sido proibida pela culpa, pela alma, e pela nação. Sua nação. Perceba o ar em sua volta, perceba a poesia que te ronda, perceba a energia que te dá forças, quem te dá forças? Talvez o cabelo desarrumado, talvez o jeito embaraçoso, talvez as mãos que tremem, talvez ela mesmo lhe dava forças depositando uma fé insana numa coisa que não ia ocorrer. Mas o importante era que tinha forças e agitava-se no meio de uma multidão, tão, tão longe de casa, por quem escrevo este texto? Era para minha velha camiseta xadrez usada, suada, surrada, amaldiçoada, suja, estranha, cheia de estórias pra contar, de mentiras para desmentir, de desabafos meus pra dar, ela sabia de tudo, maldita.
Toque sem querer o imprevisível de um sonho que se tornou realidade, e eu que jurei não dar passos em sua direção, não dei um passo, dei cinco, seis, minha vida em passos, me dei em passos, me entreguei e você caiu direitinho e perdeu o próprio jogo. Você subiu, você pulou, você correu, gritou, desesperou-se, mordeu, assoprou, beijou, lambeu, sentiu, disse, mentiu, correu com lugar pra chegar, amou? Será que amou? Será que foi o vão maior? Será que teve alguma química entre minha camiseta xadrez e sua vida?
Saia daqui agora, eu não sou mais forte o suficiente para aguentar essas batidas de carros, de motos, de corpos, de estórias pra contar. E por mais suja que se sinta, por mais imunda, culpada, ela gostava e muito. Gostava de estar entregue a uma redenção de corpos, num show de horror, quem mata mais, tortura e ganha. Te ganha.
Minha desunião, não ligo se não for recíproco, dou-lhe beijos desapegados, dou-lhe textos gratuitos, doei todo o aspecto de me ter em carinhos e poesias, e leituras e magias, chamegos, o que quiser. Encontraremos-nos em outra vida sim, mas só em outra vida, isso não é normal, não posso ter mais de uma vez. Muito obrigada por apimentar o drama de minha vida, por me fazer um ser mais estressado e anormal, obrigada, obrigada. 

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

hell, I've seen America's best.


Iracema é a folha escura que faz sombra em tua alma; deve cair, para que a alegria alumie seu seio.

Iracema caiu, a paz voltou, as coisas estavam no lugar e essa era a mais bela despedida do mundo. Injúrias impostas, secretas, eu sabia que ela ia embora, pois o que é penoso não deve ficar. Te quis, Iracema, virgem – não – dos lábios de mel, nenhum povo será tão doce quanto teu sorriso, nenhum ventre carregará meu filho, sua morte não causará maior dor em ninguém do que a mim, mas teve de partir, para que eu pudesse viver, e eu tive que matar quem me consumia.
Iracema residia, tua forma de chamar atenção era obedecer ao meu silêncio, não se permitia uma palavra, de fato também pensava que sair seria o melhor. Iracema cuida de si mesma, e eu cuido de tudo aqui. Já sei que foi melhor não jurar vidas eternas ao que não pode nem começar a viver, ainda bem. Se fui sincero? Não sei, mas senti, um pouco.
Àquela paz que duraria dois segundos eu doava toda minha dedicação, fui hipócrita com uma hipócrita, como uma hipócrita só podia ser, não mais. Àquela paz de dois segundos faria com que eu voltasse a dormir, e eu ainda tenho em minhas pernas o resto de Iracema, ela se foi e deixou algumas marcas, uma hora e dezesseis minutos com Iracema já é o suficiente. Me ignora.
Minha vida passada já havia sido isso faz tempo, digo, Iracemas na minha aldeia apareciam com freqüência, me hipnotizando com uma dança cada vez mais sensual, estava bem aqui, me fazendo sofrer mais e mais, na minha descrença larguei minhas Iracemas e me uni a uma só, que não era Iracema.
Eu nunca busquei a simplicidade, nunca busquei a paz. Estava me dando por satisfeito em ficar cada vez mais feliz com meus problemas, com conflitos, com tristezas, mas é impossível ser feliz e triste ao mesmo tempo. Eu devo confessar que refutar Iracema foi de longe uma das coisas mais ousadas que fiz, mas como a mesma dizia, tenho excesso de ousadia, então se divirta com minha ousadia em excesso que estava há muito tempo guardada. Você não me conhece, e eu não te conheço, Iracema, ousadias por traições são todas iguais, estamos quites e com cem anos de perdão. Mas não te perdoei ainda porque não há nada o que perdoar.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Poema do mais obscuro do coração

Filhos fortes para homens grandes
Amantes, dessas coisas másculas e decididas.
Indefinidos, que seguem com os olhos abertos e avante,
São homens grandes com idéias perdidas.

Não, não sou um homem, nem sou filho,
Mas sim, continuo perdido.
Em minhas idéias como espigas de milho
Entre os dentes, que para nada servem, além de incomodar.

Eu não ando, não vivo, não estou (nem estive) viva.
Eu vago, não me lavo e tenho feridas
Que mostram a força e a intensidade
Que meu coração deveria ter
Minh’alma apenas grita pela liberdade
Até ela é forte demais para ficar
Presa na carcaça do que é ser – eu.

Ainda assim hesitante
O homem pensante segue a cantar;
“De que lado fica o mais obscuro do coração da jovem dama?”
Abrindo a blusa da jovem, ele se perdeu,
Descobriu que a jovem era um travesti sim.
Prostituído, pobre e sujo, uma copia de mim.

O grande homem com filhos fortes
É um covarde sem tamanho,
Deveria ter cruel, lenta e paciente morte
Por lhe julgar e maltratar o que lhe é estranho!

E assim me deixa moribunda no chão,
Ao sangue, e ao léu;
Do beco sem saída de uma traição
Dos beijos vendidos por Raquel.

Que bela anca ela tem!
Vamos comprar, usar, vender!
A bela anca que esse bicho tem,
Bicho mulher molestado
Travesti torturado
Na terra do homem covarde,
Só sobrevive quem tem covardia como arte.