domingo, 6 de fevereiro de 2011

O Luto Eterno de Neyde.

Ela costumava rodar com o cara mais bonito de Osasco, se casou com ele e fez inveja em muitas garotinhas de sua idade. Teve duas filhas e fingiu que o alcoolismo de uma delas não existia. Fazia o cabelo, comprava jóias, mas que graça de pseudo-mulher-menina! Tinha onze irmãos, mas agora só tem uns quatro. Morava só, mas agora tem o neto não acompanhado. Vestia e comia do bom e do melhor, sustentada pelo marido, ela vivia, muito mais que vivia, a vida de Neyde foi até dois e mil três uma férias "eterna". Mas de lá pra cá... Em menos de dez anos, todas as negligências vieram à tona, todos os erros que ela fingiu não ver, fingiu que não existiam a cobraram muito mais do que podia dar.
A garota pseudo-italiana não mais podia ser consolada como tinha de consolar os netos e as filhas, pois é isso que se espera da matriarca da família, não é? Não. Na pirâmide familiar da lista de necessitados, ela burlou as leis, e como sempre com seus olhos verdes e a cara de pena que tem conseguiu a pena de todos e às lágrimas, ela deve quase tudo o que tem, quase tudo o que pensam, ela deve às lágrimas e sabe disso. Mas esse não é ponto. Quando mais precisavam dela, quando as forças já eram nulas, ela conseguiu tirar mais e acumular o que já tinha, tirando de quem não tem. E depois de em menos de dez anos perder o marido para a cirrose e a filha caçula para vários cânceres, ela chora, de novo. Mas o choro é novo, pois é! O choro dessa vez é porque ela fracassou como mãe, é porque ela não ajudou à filha bêbada e depressiva que abandonou a outra filha depressiva - que sabe mentir muito bem. É porque ela deixou matarem o que mais tinha de melhor e importante: a família. E junto com o caixão que a filha da filha viu descer com o resto de sua mãe, junto com aquele mesmo caixão de madeira escura, se foi seu coração. A filha da filha, não é tão depressiva como a mãe, mas é melancólica. Não chora com frequência como a mãe, mas quando chora, é uma maratona intensa. E que olha com rancor - sim, rancor- e desprezo a avó que deixou a mãe morrer, destruindo suas necessidades como filha, seus pesares e seus amores. Agora, quase tudo é novo, mas a maioria dos sentimentos ruins, só foram intensificados.
E Neyde, como vai? O luto eterno de Neyde começou agora, que não resta mais nada, agora que ela está no poço e as mãos adormecidas, começou o luto eterno, e a garota das jades e roupas extravagantes usa preto. Preto em tudo, até seus olhos verdes escureceram, a árvore de luxo e glamour extremo secou e tudo o que resta é arrependimento. O tempo não volta e seu luto não pára.

Muitas vezes, a grama do jardim do lado é muito mais verde, às vezes, mas às vezes, é muito mais podre.