sábado, 4 de junho de 2011

Perdida na selva, sozinha, faminta, excitada pela nova aventura de ficar mais perdida e mais faminta, ela saiu correndo desenfreadamente por matos desconhecidos, ela se entregou ao preço caro de desejar a solidão, que ela tanto desejou, que tanto deixou de existir e que agora estava em pé, se apresentando como “querida solidão”, estava ao extremo.
Não sei ao certo se isso era sociopatia ou, se era apenas paixão por si mesma – ao ponto de não querer mais ninguém. Não sei ao certo se ela se amava, se o ódio por si mesma era tão grande que ao se enxergar em um outro ser, o ódio passava para este estranho corpo. Mas ela não pensava nisso. Apenas nas folhagens e nas paisagens que estava prestes a conhecer, a tocar. Ela estava louca de tão feliz.
‘Minha aventura, pra onde você foi, pra onde você vai?’ Era tudo o que ela pensava, e não se preocupava se isso era são. A vida estava doce, com gosto de sangue fresco, com gosto de bebida gelada em dia frio, e ela estava arrepiada por este novo sentimento. Não era justo, tantos bichos por aí, tanta coisa errada e tanto perigo, e ela nem aí. Ainda bem que ela estava só, porque se não estivesse só, ia chorar – um choro ruim -, ia desesperar-se, não ia ser tão bom. O único braço que ela podia agarrar era o dela mesma, e isso não tinha nexo nenhum.
Perdeu-se a noção do tempo, espaço, destino, enfim, a noção em si. E ela não sabia ao certo quando ia morrer, e o misto de sociopatia com o próprio ódio se exalou um pouco mais, ela poderia morrer agora, poderia morrer amanhã, como poderia se radicar árvore, criar raízes e viver pra sempre, mas os Cosmos livraria isso de acontecer, espero eu.
Não faça isso. Ninguém podia falar nada, ela era desconhecida na cidade. Seu pai era uma barata gigante e sua mãe poeira estrelar. Ela era mais impura que a impureza e mais ingênua que o genuíno. Ela era um misto de filme de horror com romance água com açúcar e agora estava feliz, nessa selva que ela imaginava enquanto cortava seus pulsos na banheira.
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A respiração fraca com a dor, com o ardor, com as lágrimas da vitória, finalmente, tinha criado coragem para entrar no seu inconsciente e fazer dele sua eterna morada, já que a vida consciente só lhe trazia tristezas, resolvera se entregar de corpo, alma e sanidade à imaginação.

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