quinta-feira, 5 de maio de 2011

IV

Corpo de Carmen, vestido de Carmen, perna de Carmen, mãos, boca... batom. Era muito calada para ser Carmen, mas era Carmen, ela estava lá! Meu amor tinha voltado e eu estava tão feliz! Tão simétrica, tinha voltado na hora, no dia em que partiu, só para me ver! Carmen! Carmen! Abraçamos-nos, nos beijamos e nenhuma voz, nenhuma frase, mas eu não ligava, tolamente me entreguei a respiração mais intensa, mais rápida, estávamos nós de novo, naquele calor que era normal sentir, manchado daquele batom de um vermelho intenso, entre aquele par de pernas! “Oh, Carmen, que saudade de você!” , “Também senti sua falta”. Foi então que eu percebi, tudo estava bom demais pra ser verdade e eu bêbado e esperançoso demais, era parecia e sem vergonha demais, vadia. “SAIA DAQUI SUA IMBECIL, NOJENTA” e a empurrei, estava nua, a Velha Nojenta estava caída no chão do meu quarto, rindo. “Mas é um otário mesmo, achava que Carmen com todo aquele porte voltaria pra você, estúpido?”, sinceramente? Achei. “Não, mas achei que era pelo menos uma puta, dou mais valor a uma puta arrebentada do que a você, sua velha nojenta, idiota.” , “Mas gozar, gozou igual com Carmen não é? O amor é uma fantasia, seu idiota! Larga disso, vá atrás de outro alguém. Só com um batom vermelhinho eu consegui te enganar, tão fácil, tão simples!”, a verdade, era que meus pensamentos eram “não posso desistir de Carmen, não quero". Mas o que aquela Velha disse era verdade, bêbado, eu achei que ela fosse Carmen, talvez estivesse muito acostumado com a ideia de ela estar comigo, que esqueci que existem outras. A vida era um pouco mais difícil pra mim, com um problema que criei, se me deixasse amar de novo, ser feliz de novo, não estaria assim, aqui, contando deste jeito uma coisa que infelizmente falhou.
O ponto onde quero chegar é que por esse motivo aquela Velha não seria apenas uma velha – que nem velha era, tinha quarenta e sete anos - , mas seria uma velha nojenta. Odeio quando me mostram que estou errado assim, com essa intensidade, odeio. Queria que ela apenas conversasse comigo, não que ferisse meu ego, não que me humilhasse. Mas foi, e ela saiu de casa, rindo da glória de ter feito gozar o homem de uma mulher só e ter me feito enxergar. 

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